sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Aceitar o diferente


12/05/2011 08h00 - Atualizado em 12/05/2011 08h00

Opinião: Aceitar o 'diferente' é prova do amadurecimento da sociedade

STF aprovou a união estável para casais do mesmo sexo. 
Medida representa um passo adiante na questão dos direitos civis.

Ana Cássia MaturanoEspecial para o G1
ilustra (Foto: Arte/G1)
Uma das coisas mais difíceis para o ser humano é lidar com aquilo que é diferente dele próprio. Ao nascer, ele se confunde com o mundo. Em sua idéia, são uma coisa só. Aos poucos, ele vai se diferenciando e percebendo que é apenas um pedaço do universo.
A princípio, pensa que sua forma de ser e existir é única. Para então se dar conta de que existem outras. O que não quer dizer que as aceite. Pelo contrário. Isso exige amadurecimento – sair de seus referenciais, perceber que existe um mundo inteiro de possibilidades e que seu modo de ser é apenas uma delas. Aí, sim, poderá aceitá-las.
O Brasil viveu algo assim semana passada. O Supremo Tribunal Federal aprovou o reconhecimento da união estável para casais do mesmo sexo, com os mesmos deveres e direitos de um casal heterossexual, considerando-os uma entidade familiar. Foi um passo adiante, sem dúvida.
Ainda é necessária uma lei que garanta isso como condição natural, sem discussão. Alguns entraves podem ocorrer, mas hoje a possibilidade desses casais serem considerados como tais ampliou. O que torna o caminho deles mais simples. Não tão simples, ainda, como o dos casais héteros.
Mudar não é fácil. Muitos são contra essa idéia. Consideram o indivíduo homossexual como alguém doente ou depravado. Como se o seu modo de vivenciar a sexualidade fosse perverso ou promíscuo.

No entanto, eles não se acomodaram com o que lhes fora reservado e lutaram. Aos poucos, estão conseguindo ocupar outros lugares. Comuns, diga-se de passagem. Querem trabalhar, casar, ter uma família própria, filhos... Tudo que muitos pensavam que não podia interessar-lhes – uma vida comum.
A ideia de doença e promiscuidade vem da condição social que se impôs aos homossexuais, deixando-os a margem da convivência e não oferecendo outras opções, às vezes, além da prostituição. Esse foi o lugar reservado a eles – muitos o ocuparam. Assim como não é fácil conviver com o diferente, também não é nada simples ser visto como tal.
Muitos devem ter se questionado como alguém que gosta de expressar sua sexualidade de maneira diferente pode ser tão parecido consigo próprio. O que torna o diferente ainda mais assustador por estar muito próximo.
É hora de abrirmos os olhos, como o Brasil tem feito. Há muitos casais homossexuais que querem e devem ter o que qualquer um almeja. Inclusive filhos.
Outra questão que parece despertar a ira de muitos. Não aceitam a possibilidade deles criarem uma criança. Confundem esses casais com pervertidos sexuais. Temem o que poderão fazer com os pequenos e no mau exemplo que darão.
Eles podem e devem adotar crianças. Alguns têm mais condições de serem pais e outros menos. Assim como os casais convencionais. Têm muitas crianças precisando de um lar e não de um abrigo.
No que resultará todas essas mudanças? Não sabemos. Devemos nos preparar para incluí-las em nosso dia a dia. Afinal, as pessoas só querem ser felizes.
Feliz é o país que pode ir para a frente, acompanhar as mudanças e acolher seu povo.
Parabéns ao Brasil.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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